Uma tendência a puxar-me para o vazio
É interminável o corredor de sons a agastar-me
Entorpeço-me na floresta das calçadas
Onde o abismo se deita à minha espera
Tento controlar-me
Não consigo tomar conta de mim
É absurda a questão do pensamento a abafar-me
Revejo as margens onde circulo
Onde a esperança me morre entre os dedos
Das minhas mãos que já não são mais mãos
Temo-me.
Temo-me a mim própria na confusão do vento
Tenho-me propriamente a mim e nada mais além disso
Uma tendência a corroer-me lenta e velozmente
Aquecer uma vela com o sopro que a extermina
Revejo-me. Revejo-me.
Desconheço a pessoa onde estou e aonde estive
É incansável a luta parda a agredir-me
A existencializar-me face à minha extinção
Não quero mais ver. Não quero mais ver.
O soluço desse pedido a implorar a visão
Cresço. Cresço devagar... muito devagar
O tempo espera? O tempo espera?
O tempo esperou...
Deixo-me numa tendência persuasiva abater-me no não-encontro da espera
Deixo-me...
Ergo a cabeça, ouço os sons a falecerem-me
Encosto-me... não tenho mais pescoço para manter seguros meus olhos
Ausento-me da forma. Ausento-me do conhecimento
Anulo-me... Anulo-me.
Perco-me encontrando-me de braços abertos
ao vazio desta minha tendência