maio 31, 2006

Em farol - Parte I

Era suposto serem umas três da manhã mas era ainda muito cedo, o relógio não apontava mais do que nove e meia da noite. A ausência, a espera, absorviam-na na sublimática cadência da permanência secreta de memórias embrenhadas em recalcamentos e supressões de memórias que tentava a todo o custo desviar de si mesma para o caixote de lixo, ao lado da secretária. Os jornais falavam-lhe da modesta sensação de se julgarem sabedores de tudo o que se passa no mundo. Não havia música ou qualquer ruído pressente de ser estranho ou pouco usual à janela daquele andar sossegado, onde se perdiam as noites e se ganhavam os dias no sentimento estranho de melancolia que lhe possuía agora os braços. E o telefone já tinha tocado algumas vezes e o gravador de chamadas, limitava-se a guardar as mensagens, como se guardam as caixas vazias de cereais e pacotes de cartão para mais cedo ou mais tarde se colocarem no repositor de reciclagem.

3 comentários:

Anónimo disse...

o vazio que tarda em ser preenchido... o tempo que ruma contra a maré e atrasa a vinda desejada... e finalment a caixa esquecida que se renova.

um baci..

K'os disse...

o tempo não pára, apenas confunde

ausência, é o não haver e existir nada, é o não estar

telefone o que faz a "ponte" entre o tempo e a ausência

gravador, guarda para ouvir mais tarde e deste modo puder existir a esperança e o surgir de novas mensagens e as antigas serem apagadas

deste modo tudo gira e roda, nada pára, mas de algum modo parece que pára, é apenas o tempo a confundir

...

:)

marco disse...

BOA NOITE!