junho 03, 2006

Estilhaço...

foto de M.Delgado e Silva

Não guardei o leite no frigorífico...
simplesmente bebi do teu mesmo copo
orgulhei-me de ser venerada nessa sombra
ácida de corpos carpindo
era feérica a carpete de veludo
a agitação das ondas nesse meu quarto
onde o céu não mais era que o verdadeiro
onde o céu não mais era através da cortina baça
crescias em mim
sempre o fizeras lentamente
crescias em mim...
algures voltámos atrás
algures
nem percebi bem quando, nem o quê
ou se porque...
algures
e o leite desaparecera
e a carpete
e o mar ascórbico
e o teu corpo...
Só a janela:
a velha janela feita de tela de universo
ainda lá está
fingindo-se janela,
caindo na filtragem da memória
decaindo...
deixando-se penetrar pelas eras e silvas
pelas heras e salvas da invasão-mater
vinda da natureza de fora...

6 comentários:

André disse...

escuro
moribundo
soturno
todo mundo
feito luz
todo em mim
mundo inacabado
tanta vez recomeçado
incerto mesmo assim

L. disse...

Nunca é tarde para mergulhar na janela, e dela fazer janela da alma…

Renovar memórias, corpos, sentires…

(torna-los reais…)

Permitir-lhes que cresçam como heras, numa nova era, de um novo sentir…

Alisson da Hora disse...

poesia plena de cotidiano...aí é que está a beleza...

beijos

a.h.

K'os disse...

de algum modo as coisas físicas ficam e raramente mudam, nós estamos em constante mutação
...
por isso encontramos o que fica... "a velha janela feita de tela de universo ainda lá está"

...


bonito

:)

Anónimo disse...

Quando os dias são longos,

as noites intermináveis

e de nada mais se tem vontade

ainda resta algo importante,

o sentimento da amizade.



Perto ou longe é tão bom saber

que existe alguém que torce por você

e sempre deseja lhe ver.



Se chove ou faz sol,

frio ou calor

a tempestade do amor

é que vai auxiliar

seu coração palpitar.



Carinho nunca é demais,

está provado o bem que ele faz,

e o quanto pode ajudar

a dar força e coragem

a quem está em desvantagem.



Resumindo eu só posso dizer

que estou aqui pra você

e onde se lê

"carinho nunca é demais"

leia-se;

"pra você eu quero sempre ser mais."

Pierrot disse...

Pasmo com o texto.
Aquela janela...
Este texto, este quadro, esta música...fez-me lembrar a Janela por onde Ramon Sampedro imaginava e sonhava com a vida enquanto "morria" aos poucos tetraparaplégico numa cama, no filme, Mar Adentro.
Que pancada estes versos
Bjs
Eugénio Rodrigues