dezembro 18, 2006

Arcano

Foto: Carlos Afonso

Nem na poesia das coisas nos podemos situar...

dezembro 07, 2006

Desafio proposto por Pierrot

Foto: Rosalina Afonso
Vigias...
canso-me de guardar esta porta
de ter como companheira a cadeira
hirta,
aveludada outrora desse vermelho-princesas
canso-me por não ser mais que uma vara
da varanda ao meu lado..
Ouvindo cortesias de quem sai da porta principal
Lembro-me quando te sentavas a meu lado
na cadeira
eras não princesa mas a princesa que me cuidava
e quebraram-te de mim...
a cadeira enferrujou
a porta raramente é aberta
o varandim está a desfazer-se
e nem sequer tenho luz para navegar
nos teus olhos
por muito que aguarde...
não sei se espere mais
se ainda com o sol bem alto
me deixe dormir...

dezembro 03, 2006

Botão em flor

foto: Alba Luna

Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...

Clarice Lispector


dezembro 02, 2006

Olhar de A. sobre mim...

foto: Reynaldo Monteiro

Atrás desta janela
Não sabia
Simplesmente não sabia
Não sabia
Agarrada à dor
Agarrada à mudez
Não sabia
...
E tu...
E tu minha janela
Minha luz
Meu dia

novembro 29, 2006

Subversão

foto: Espírito da Luz
Onde se deita a luz
Onde o silêncio nos beija
Onde o vento murmura
Onde o tempo pára
Onde a voz me cega
Onde o ruído nos cruza
Ergo-me
Ergo-me em espiral
Revolta anti-oxigénio
Génio de mar
Mar revolto
Supra-sentidos soltos
Adamastora preeminente
Montanha-mel do onde
Onde...

novembro 18, 2006

A ti Mário...


7

Eu não sou eu nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio:

Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

Mário de Sá-Carneiro
(Lx, fev, 1914)

novembro 13, 2006

Passeio

Foto: Germeson H Dias

Damos os mesmos passos
de mar ausente
A areia grava-nos lado a lado
caleidoscópio granífero
Damos os pequenos passos
de mão presente
A líquida salgada a levitar-nos
em ondas ferozes
Damos...
de mente inversa
desavessando-nos
lentamente
suavemente
no correr de sedas
em lençóis de água
em bancos de areia
e o crepitar de folhas
(em nossos pés)
quase a queimar-nos
violentamente
no embaraço digital
de nossas pegadas...

novembro 05, 2006

Pecado...

foto: Angelica

Devagar meus lábios entregam a luz em teu peito
Devagar o sorriso coalha na textura do silêncio
E a esperança geme-me o hálito vivo
A saliva pecaminosa da lingua
A unha crivando meu traço de arlequim
E sigo vermelha a beirinha da luz de embalar
Quadrado após quadrado germinando a sede
Quadrado após quadrado teimando o segredo
a voz
o quente
o tecido de pele
o teor de sentidos
o tremer de minhas pernas
a veia vigorosa a penetrar-me
a incorporar-me
como que desenhando-me
como que gravando-me
as linhas
as marcas
os caminhos
onde me ando...

outubro 19, 2006

Boneca

Desenho: Shadow

O sol adormeceu no meu leito. Crescia a densa saudade de voltar a ser nuvem e esvoçar pelo ar ácido da chuva. Na rua perpassavam-se imagens de pessoas ausentes de sentimentos, dementes de sentimentos e ao fundo ouvia-se a luz de um piano. A correria silenciosa dessas janelas de carro molhadas pela chuva... via a calçada cintilar-se de dor numa criança semi-nua, pela sua inocência, levando uma boneca molhada pelo chão. A mãe caminhava erecta num tom franzino quase mecânico e arrastava-a em passos largos obrigando-a a esvoaçar pardaliticamente. Também ela desejava ser nuvem? Também ela se movia nesse esvoaçar... e terá alguma vez o sol adormecido no peito? A boneca molhada ao fundo da calçada. Uma perna a cada lado... as tranças cor-de-rosa a gemerem de água no nevoeiro nú da rua... Segui-a com os olhos estrada fora até a condensar num só ponto... o retrovisor mantinha-a distante e presente nos salpicos de chuva a espelharem pelos vidros...

outubro 18, 2006

to A.

Foto: Paulo Medeiros

É de sangue a lágrima que me corrói o peito.
Ácida... tão ácida...

É de sangue...
A lágrima...
Um sangue de felicidade corrosiva...

Obrigada pela luz da tua mão

setembro 26, 2006

...

foto: Nitsa

(Voltarei...)

setembro 15, 2006

Porque...

foto: Nuno Ferro
Porque às vezes me sinto sem cor
Porque às vezes não me sinto plena
Porque tem de ser assim digo-me
Porque não tenho mais para dar
Porque...
Porque ...
Porque sou eu assim eu mesma
E às vezes tão pequena porque não consigo voar...

setembro 01, 2006

Lema Azul

Indifference

I will light the match this morning, so I won't be alone
Watch as she lies silent, for soon light will be gone
Oh I will stand arms outstretched, pretend I'm free to roam
Oh I will make my way, through, one more day in...hell

How much difference does it make
How much difference does it make...

I will hold the candle, till it burns up my arm
I'll keep takin' punches, until their will grows tired
Oh I will stare the sun down, until my eyes go blind
Hey I won't change direction, and I won't change my mind

how much difference does it make
how much difference does it make..
how much difference...

I'll swallow poison, until I grow immune
I will scream my lungs out till it fills this room

How much difference
How much difference
How much difference does it make
How much difference does it make...

Pearl Jam
(VEDDER/MCCREADY/GOSSARD/AMENT/ABBRUZZESE)

agosto 26, 2006

REGRESSA!!!!


Fotos: Carlos Ariza(cima) e Daniel Coelho(baixo)

Aguardo essa tua entrega
Essa tua energia...
Regressa depressa
Que meu coração não nega
O desejo que começa
Com o chegar desse dia...

agosto 24, 2006

Esvoaça...

Foto: Augusto Peixoto

É a saudade a navegar meus cabelos
A rusga de espraiar-me em olhar
Sob o azul que me cobre o peito pingente
E nessa beleza em que me deleito
Visto-me de nudez sobre a mesa
Como rainha de espadas fossilizada
Na jogada infeliz dessa espera infinda
Sento-me confortavelmente na pluma errante
E ao vento derramo meus cabelos
Ouço o meu olhar
Vejo o teu
E permaneço intocável neste barco
De esperas....

agosto 05, 2006

Chuva...

Foto: Toninatto
Sentir as gotas de chuva no meu cabelo ao sol
Afundar-me nelas...
Adormecer nesse calor húmido
Nessa transparência de ser-me...
E navegar...
Navegar meus pés na terra molhada
Abraçada a essa frescura...
Sentir...
De mãos e pés nús...
Mãos erguidas ao sol
Pés enterrados à lama da vida...
E renascer...
Renascer na benção
Concebida pelo existir-me..

julho 31, 2006

Susurro...

foto: Angélica
A distância onde me deito
São estes lençóis que falam
São esta espera sandia que em mim cresce
E por onde se estende o olhar
O ruminar de meu corpo
O ranger de meus dentes
Os açoites desmesurados no luar fugidio
São as estrelas que caminham
São as flores semi-nuas
Por onde flutuo e esvoaço
São estas ondas meninas
São estes montes descobertos
A brisa do sorriso
A ternura do arrepio capilar
E as vozes pequeninas do mundo
E as vozes pequeninas do sonho
E as vozes pequeninas a assomarem
A prescreverem a luz...
E se esta distância onde me deito
É colo da minha quimera
Que se encurte a vista
Que se salve o sonho multicor
E a cegueira me absorva...
Essa distância onde me deito...
Esse peito meu ofegante....
Seja não mais nunca distante
E me permita ancorar...

julho 29, 2006

Salpicos

Foto: João Azevedo

A banheira tinha água...
Pouca... lenta...
A espuma a esbocejar no corpo
O veio surdino da porta a bater
Bem dentro do peito...
Vapor sudorífero
Nádega plasma
Gestos nenúfar
E mergulho de olhos
A banheira tem água...
Muita... voraz...
O sossego da alma
Em bolha de sabão
Nem mesmo a correria
Nem mesmo o silêncio
Quebrarão o esse mesmo
Da inconstante jarra líquida
Do banhar-me...

julho 26, 2006

Amanheço

foto: ABrito

Despertei plena...
Braços cruzados no ventre
Lábios rasgados pela sede saciada
Julguei-me sentada a teu colo
Castigo...
Castigo sôfrego...
De teu julgamento...
Não existiam rostos
Não existiam mãos
Não existiam olhos
Apenas a luz...
A luz intra-corpo
A luz intra-sonho
A luz...
A luz...
A penetrar...
A balouçar
Salvação máxima
Alcançada pela pena cumprida
De te ter...
De nos termos...
De despertar e ver o espelho-água
Gritando às ondas o sorriso dessa entrega...


julho 25, 2006

Lúcida

foto: Iva Silva

Sento-me num corredor nú
Arrefeço-me...
E aperto em mim a gratidão
A palavra humilde do ente efémero
Onde voo
Onde me sento
É meigo
É plácido e cálido
Sóror seria indiferente
Mater...
Mater intra-corredor...
Sento-me...
Agudizo-me...
Sento-me...
E é berço a minha alma
Êxtase perpendicular à faceta bípede das mãos do olhar
a percorrer...de fundo
ao fundo...
O corredor...
Imóvel...
Desnecessário mover-me...
Cinzelo um caminho assomado de nevoeiro
Pela poeira calma do caminhar de olhos...
É gelo...
E bem dentro o sorrir
A agradecer...

julho 15, 2006

Véus...

foto: Ronaldo Ramos
As borboletas vagueavam pela casa. Apoderaram-se dela. Sem qualquer outro sentido sobrevoavam o quarto onde restavam retalhos de jornal a cobrir o chão, restos de tintas multicor coladas ao inverso das latas que flutuavam... a sala guardava pedaços de roupa dispersos pelas cadeiras e uma ou outra chávena vazia no tédio... o sol emanava a claridade disforme de as fazer planar úmbrias em três, quatro ou seis rasgos de asa. Eu sentei-me na flor. Macias, as pétalas, exalavam um sabor requintado de perfume fresco acabado de absorver o rectilíneo frescor nocturno. Dei por mim nua. Perguntei ao rapaz da porta se aquela jarra era de cristal e num afago gestual acenou-me que sim. Comprei-a trouxe-a para ali junto das laranjeiras carregadas pelas flores transmutadas em fruto. O pomar esguio, lesto e abafado pelo calor do verão recolhia-me a casa. Nem a água da fonte se tornara límpida com o decorrer de todos os anos. Assustado o varandim pregava-lhe partidas com a sombra ameaçando o compassar do relógio guiado através da lua. Coloquei a jarra em cima da mesa. À noite, quando estou sozinha, as borboletas desaparecem. Só de manhã o mercado, bem cedinho, acorda as vendedeiras de flores. Pego nas latas de tinta e desaparecem. A roupagem, transparente. Perguntei à mais nova das raparigas se aqueles lírios eram puros e sem qualquer gesto, no triunfo pueril de uma virgem murmurou que sim. Peguei em dois atirei-os para a jarra de vidro verdadeiro e falso no cristal e comparei-os à ebriedade das laranjas felizes por nunca darem fruto e vangloriarem-se de flores brancas. O frio a cortar nas entranhas do choupal arrastava-me a casa. Nem o vinho se tornara maduro mesmo passando correntes de tempo para o fortalecer. E dei de caras com o rapaz da porta. Porte robusto, de moço jovem, um aventalinho verde a cingir-lhe a anca. Nunca saíra dali, detrás da montra, nem para ver o pomar, nem o varandim, nem a fonte, nem a mesa onde coloquei a jarra, nem as latas de tinta a colorirem a pureza feminina que me vendera os lírios.

julho 07, 2006

Iara e Maria


Seus olhos bem abertos
Questionam na inocência do mundo
Eu digo:não há maior felicidade
Suas mãos estendem-se para as segurar ao colo
Eu digo:não há maior sorriso
Eu digo:não há maior ternura
Eu digo:não existem palavras
Eu digo:obrigado por entrarem na minha vida
Haverá algo maior que o momento-glória de vos ver de olhos abertos enroladinhas e de cabelo encaracoladinho no nosso primeiro encontro???
Hoje já tão crescidas recordo essa felicidade que continua e agradeço:

Obrigada Mamã Sil por este presente único!!!

junho 25, 2006

Sufocar

foto: Nuno Agosto

É nas lágrimas que permaneço
É na chuva desse odor
Curvo-me solene ao reencontro
Busco-me
É nas lágrimas que reencontro
É na chuva dessa dor
Ergo-me desgrenhada em fusão
Encontro-te:
respiração ausente
olhar orbitalmente ausente
frio, calor intermitentemente
presentes no ausente
de te ter presente: AQUI!!!!

junho 22, 2006

Em Farol - o fim

O farol... como não pensei nisso antes, um momento que fosse... antes... Procurarias o nosso refúgio, o farol... Um turbilhão de cores e flashes fulminantes a pregarem-se-me à cabeça como um vómito sandio a aniquilar toda a beleza triangular a esvair-se pelas minhas mãos, regredir, a regredir, em espiral, volteando um subúrbio pulmonar de coração pungente a abraçar-me o peito num sufoco... em espiral. Corri para te alcançar... corri... corri, tropecei no empregado de mesa, pisei algumas das senhoras primorosas e corri à varanda, à varanda, ao fundo o mar... o mar... a música heraldicamente marroquina a saltar-me pelos olhos... vi ao fundo uma sombra branca, branca tão branca como a tua mão que segurei de seguida... quis dizer-te o quanto amei a nossa vida utópica!.. o quanto... estavas pálida muito pálida, pareceu-me que sorriste enquanto te arrancava do lençol púrpura de rosas negras, sem espinhos, polinizadas a orquídeas brancas... o teu pulso... o teu pulso... creio que o senti… juro que o senti ainda ou seria um reflexo da agulha ancorada à tua veia... ou da líquida morfina a sugar-te a respiração e condensando, congelando, os teus lábios de gueixa pura... tão pura... e fiquei ali a ver as gaivotas, a sentir o vento, a ouvir de fundo aquela música estranhamente familiar... as ondas... as ondas... a ouvir... a festa continuou e, no dia seguinte, propagou-se, alastrando-se colorida no teu funeral... irónica... mesmo depois de todo o sal sugado das entranhas de todos a quem tanto querias simplesmente bem... sendo irónica... ironicamente irónica...
Beijo... simplesmente e tão simplesmente beijo... em... a.... em.... ... ... ti....

junho 18, 2006

Escreve-te...

foto: Angélica

Não me olhes mais os lábios
Não te sentes mais nos meus olhos
Ergue-te e acolhe a minha pele
Ergue-te e submerge-te nos meus cabelos
Não sorrias isoladamente
Não caminhes isoladamente
Vem nessa nuvem bem devagarinho
Vem e caminha com teus dedos
o suor da tua face
o rubor de teu peito
tictacteando nas linhas de meu corpo
eriçando-me in utero ao demais na luz
no semblante desse toque
Roça-me
Emerge-me
Rasga em mim as letras desse poema
como se me vincasses o solarengo amanhecer
na epiderme em que me visto
Escreve-me...
Arranca em mim o gemer dessa tinta
como se me matasses na fúria desse acontecer
a sede de me teres escrito...
deixa em mim a tua escrita...

junho 13, 2006

Em Farol - Parte III (cont.)

Tinha o desenho de um tigre a saltar, um salto violeta daqueles que só Al Berto soube transmitir no recanto da sua escassa obra. Dizia-me simplesmente isto:
Escuta de mansinho as portas brancas de tua antiga casa, lembra-te da tua face curiosa e do beijo roubado numa chuva rasgada pelo fugir de um táxi. Lembra-te de tuas pálpebras que beijei no silêncio enredando-te os dedos em fita de seda. Lembra-te... nunca te recordes... lembra-te apenas. A memória foi, é, será, unicamente minha...
E este simplesmente foi simplesmente simples. Junto vinha um envelope azul com o convite para mais um lançamento de um livro e foi aí que me revi numa festa, repleta de luzes, de feixes de luz agradáveis onde aperitivos e prazeres para o espírito e estômago não faltavam. Havia muita gente, de diferentes faixas etárias, de etnias diferentes e um burburinho sorridente, que os unia mastigando entre dentes, que todos eles haviam recebido juntamente com o convite um postal. A curiosidade enfeitava-os a todos porque de uma maneira ou de outra havia um segredo outrora partilhado a que o postal se referia.
No salão pareceu-me absurda a decoração com rosas vermelhas e orquídeas brancas um tanto ou quanto excessiva e roubando o respirável som de música árabe de fundo. De súbito ouviu-se a tua voz e a claridade encheu a sala de olhares a procurar-te ouviu-se a tua voz... essa tua voz... propunha um brinde à imortalidade do poema... razão sempre te achei um poema... sempre.. nisso não há que enganar... Mas a voz não era a tua... Não era naturalmente a tua.... vinha de um projector de imagem gigante que mandaras colocar na parede..
foto: James Balog

junho 12, 2006

The end


This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end

Of our elaborate plans, the end
Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end
I'll never look into your eyes...again

Can you picture what will be
So limitless and free
Desperately in need...of some...stranger's hand
In a...desperate land

Lost in a Roman...wilderness of pain
And all the children are insane
All the children are insane
Waiting for the summer rain, yeah

There's danger on the edge of town
Ride the King's highway, baby
Weird scenes inside the gold mine
Ride the highway west, baby

Ride the snake, ride the snake
To the lake, the ancient lake, baby
The snake is long, seven miles
Ride the snake...he's old, and his skin is cold

The west is the best
The west is the best
Get here, and we'll do the rest

The blue bus is callin' us
The blue bus is callin' us
Driver, where you taken' us

The killer awoke before dawn, he put his boots on
He took a face from the ancient gallery
And he walked on down the hall
He went into the room where his sister lived, and...then he
Paid a visit to his brother, and then he
He walked on down the hall, and
And he came to a door...and he looked inside
Father, yes son, I want to kill you
Mother...I want to...fuck you

C'mon baby, take a chance with us
C'mon baby, take a chance with us
C'mon baby, take a chance with us
And meet me at the back of the blue bus
Doin' a blue rock
On a blue bus
Doin' a blue rock
C'mon, yeah

Kill, kill, kill, kill, kill, kill

This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end

It hurts to set you free
But you'll never follow me
The end of laughter and soft lies
The end of nights we tried to die

This is the end

The Doors

junho 07, 2006

O regresso de João e Maria?

Outros sonhos

Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar

E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se emperiquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia

Belo e sereno era o som
Que lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris inertes no chão
Falavam de astronomia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
E a policía já não batia

De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava
Na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias

Soñé que el fuego heló
Soñé que la nieve ardía
Y por soñar lo imposible, ay, ay
Soñé que tú me querías
Chico Buarque

junho 06, 2006

Em Farol - Parte II (cont.)

Estava a ler um livro portador de um vírus de um amor irradiante, ancorado aos deuses e deixou-se adormecer de cabelo molhado envolta num turco rosa infiltrando por si mesma uma injecção de demência absoluta. Já tentara de todas as formas colorir o seu suicídio perfeito. Imaginara as diferentes formas de afugentar o mundo e conseguira isolar-se de tudo e todos num refúgio perfeito junto ao mar. Um apartamentozinnho medíocre mas que lhe dava o prazer de se sentir abandonada no meio das matas e pinheiros a circundarem-lhe o rastilho de si mesma. Viajara um pouco por todos os continentes e detivera-se na ilha mais completa que achou ser o farol condutor de uma mudança sincrónica sem o parecer da comunicação com pessoas vivas. Os mortos encarregavam-se de lhe trazer o correio, de lhe arrumar a casa e transformar deliciosas maravilhas de prazer culinário que raramente ingeria.
Um dia, mandou vir de propósito uma costureira exigindo um modelo sublime para tirar umas fotos, dizia, algo que fique fresco ao rubor do vento – e encomendou veludo roxo, ou talvez de um púrpura estranho, a verdade é que o vestido concebido pormenorizadamente recheado de detalhes semelhava-se a uma roupagem de uma cerimonia preciosa. Foi aí que chegaram os postais. Ela decorou-os um a um enchendo-os de memórias pessoais partilhadas com todas essas pessoas que de uma ou outra maneira perpassara com a sua vida interior e colorira com espaços alheios. Um desses postais chegou-me às mãos...

foto: Alexandre P.

junho 03, 2006

Estilhaço...

foto de M.Delgado e Silva

Não guardei o leite no frigorífico...
simplesmente bebi do teu mesmo copo
orgulhei-me de ser venerada nessa sombra
ácida de corpos carpindo
era feérica a carpete de veludo
a agitação das ondas nesse meu quarto
onde o céu não mais era que o verdadeiro
onde o céu não mais era através da cortina baça
crescias em mim
sempre o fizeras lentamente
crescias em mim...
algures voltámos atrás
algures
nem percebi bem quando, nem o quê
ou se porque...
algures
e o leite desaparecera
e a carpete
e o mar ascórbico
e o teu corpo...
Só a janela:
a velha janela feita de tela de universo
ainda lá está
fingindo-se janela,
caindo na filtragem da memória
decaindo...
deixando-se penetrar pelas eras e silvas
pelas heras e salvas da invasão-mater
vinda da natureza de fora...

junho 01, 2006

1 de Junho - o meu dia!!!!

maio 31, 2006

Em farol - Parte I

Era suposto serem umas três da manhã mas era ainda muito cedo, o relógio não apontava mais do que nove e meia da noite. A ausência, a espera, absorviam-na na sublimática cadência da permanência secreta de memórias embrenhadas em recalcamentos e supressões de memórias que tentava a todo o custo desviar de si mesma para o caixote de lixo, ao lado da secretária. Os jornais falavam-lhe da modesta sensação de se julgarem sabedores de tudo o que se passa no mundo. Não havia música ou qualquer ruído pressente de ser estranho ou pouco usual à janela daquele andar sossegado, onde se perdiam as noites e se ganhavam os dias no sentimento estranho de melancolia que lhe possuía agora os braços. E o telefone já tinha tocado algumas vezes e o gravador de chamadas, limitava-se a guardar as mensagens, como se guardam as caixas vazias de cereais e pacotes de cartão para mais cedo ou mais tarde se colocarem no repositor de reciclagem.

maio 30, 2006

Pirilampos


Dizem que ao nascer do sol me encontrarei contigo...
Dizem...
Não sei até que ponto a verdade me agarrará as mãos..
Trarás no teu colo essa luz, fraca, ténue
Gerada no encantamento de teu próprio seio
E eu agarrei a palavra, escrita nos círculos luminosos
Desenhados por ti à volta dos candeeiros de rua...
Só espero que ao nascer do sol ainda brilhes...
Dizem...
Dizem que me encontrarei contigo...

maio 29, 2006

Lifrep...

fotografia de A. Brito

Recorto-me... dentro do véu inofensivo a cobrir-me os olhos...
Recorto-me e esmago-me na insensibilidade de me decorar
Sei-me...
Insana apareço-me em nocturno vazio de meus seios capilares a gemerem na agonia do eu a pedir tanto esse abominar...
Vomito a dor dentro de mim...
Não sei mais apagá-la...
Engulo-a sem suster a respiração e emudeço...
Travo a laranjeira carcomida por vermes..
Neutralizar-me em esperança desfeita...
Desfazer-me em pedaços mãos espalhados no puzzle por desenhar...
Desconheço esse bem-estar da luz...
Sinto-a a percorrer a aura plena da manhã sandia
Finjo usar a máscara...
Finjo arrancá-la de mim mesma, toda, única
Finjo, de uma vez só, sugá-la de minhas entranhas
Não tenho mais em mim que retalhos...
Recorto-me...
Rendo-me à sofreguidão anterior a mim mesma
Anulo-me em frenética exaustão de decadência
Mariposa em murcho rebento a estilhaçar-se
Fugidia...
Armada de tesouras linha após linha...
Num enfeite
Num percurso consciente dessa ausência
De poder tanto quanto quero: RECORTAR-me

maio 27, 2006

Traços - parte III


Primeiro minha boca serena... sufocava densa dentro da tua... Rasgámos os lencóis de nossos corpos... implorámos ficar um junto do outro enquanto as lágrimas asssomavam uma lagoa de sal e mel à sombra da grande árvore de madeira, onde tantas outras vezes nos abraçávamos. Cinzel esguio vincava meu corpo em sangue... vincava-o em traços de cor e sorriso, a pouco e pouco, bem devagar... O arrepio no fundo das costas... o relógio dentro do copo de água, a flutuar... as ondas das aves a cobrirem-nos de grito e desespero... Tremíamos... Tu voltaste-te para a Alba e mergulhaste suave:
- Vem ter comigo...
Deram as mãos suaves e eu adormeci no espectro lunar, a agudizar a sombra do primeiro raio da manhã...
- É cedo...
E o levitar de meus barcos oníricos afogou meu corpo nos espelhos cansados dessa nudez pura... imobilizando-o no sono meigo.

maio 26, 2006

Aceitar...

Meus lábios aceitam o castigo
Vara meu corpo cansado
Sentem-se os ossos a sair boca fora
Crava-se demente a flor a acudir
a simplicidade de ter-me:
Isolamento absurdo.
Nada mais sou que absurdo
Cansada percorro debaixo do sol
o caminho fátuo sem meu barco
sem meu barco de árvores
a abraçar-me
Meus lábios aceitam o castigo
Levam consigo o fardo de não existirem
enquanto saudade:
São Sombra.
E a Sombra é senão a radiografia
da alma a esbater-se
funda e negra
no Chão!

maio 25, 2006

Não...

No conteúdo da rejeição, absorvo o cimo demente da trepidez incolor de ter-me. Aceito a névoa a sulcar-me o corpo, enterrando-o noite fora... Absorvo densamente o teu "não" a aglutinar-se-me à face. Traços já pré-existentes obrigam-me a aceitar essa pequena negação transmutando-a em abismo amplificado. Sou o eu sem aceitar essa palavrinha decontradição em relação a mim mesma. Contextualizo-a numa infame proporção, elevando-a ao estado maior dessa significância. Perdoar-me a mim mesma se conseguires ver-me nesse perdão...

Somos humanos

Às memórias de um sorriso podemos juntar ícones importados de outros. A lassidão da vida oferece-nos uma oportunidade para jamais descansar dentro do templo de quem não sabemos conquistar a ranhura do tempo a esfiar-se pelo nó que tentamos enredar pelos dedos. Não nos sufoquemos de impedir o século da transparência bem-amada. Ficaremos no silêncio das trevas a julgar o impossível dentro do tédio. Não faremos mais que julgá-lo perante o tédio. Ao acordar diremos uma só palavra e essa palavra será uníssona mediante o entardecer. Se for larga, a noite encostar-se-à ao nosso ombro. Se for densa mergulharemos na penumbra multicor. Melhor será nem sequer pensar em nada, antes sucumbir todo o universo num parâmetro disforme. Medir os caminhos e a distância, observar os pássaros e as folhas das árvores a sorrir ao vento... Melhor será nem sequer motivar distâncias. As distâncias limitam-se a si próprias, a si próprias são limitadas as distâncias. Transparece redundância? Não existe redundância. Eis um termo inventado para nos desculparmos da repetição dos erros.

maio 22, 2006

Antes de partir...

Trago-te as palavras, e este cigarro que fumaremos os dois... e do mar recolhi esta coroa de rubras escamas e o silêncio dos náufragos... uma concha, um punhado de sal e a moeda de ouro que te enterro na boca antes de prosseguires viagem.
Al Berto
Canto do Amigo Morto

maio 19, 2006

Saudade...



Como dizer-te isto sem ter sol?
Como dizer-te isto numa palavra?
Odiar os longos dias da noite vazia?
Odiar as sombras da luz?
Como dizer isto sem mostrar
As raízes que vais criando em mim?

maio 18, 2006

Silêncio...

Um banco de esperas...
um barco em horizontes de jardins...
a luz das vozes que se cruzam
e murmuram entre si um nada,
um tudo...
Uma solidão preenchida nesse diálogo mudo

maio 16, 2006

Sexo fraco... incapaz de dar à luz poesia

"Se eu fosse mulher - na mulher os fenomenos histéricos irrompem em ataques e cousas parecidas - cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem - e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia..."
Fernando Pessoa
in Carta a Adolfo Casais Monteiro
sobre a génese dos Heterónimos

Creio que Lispector lhe murmura lá nos céus: "Perdão é um atributo da matéria viva".

maio 07, 2006

Garraiada...


Confesso que ficámos na dúvida: Ir até à praça de touros ou beber umas abadias? Tourada nunca foi o meu forte, mas um sorriso miudinho surgiu em mim quando o touro saltou a arena, depois de tanta estudantada gritar: "E salta touro, e salta touro, olé!!"

maio 02, 2006

A

Tinha um caractere estranho junto ao sorriso inerte de seu olhar. Duas letras perplexas a amontoar as flechas da dor incontida flamejando desejo... Pedi-te, de mansinho, que te deixasses ir até ao recanto da luz ausente... mas na ausência perdeste-te da luminescência... fugacidade em voz marítima a reclamar essa ambição névoa, esse revoar gráfico, misto de peças mútuas a entrelaçaremos dedos...
Baba de aranha tecendo a ofuscante gosma fazendo-me prisioneira a ti...

abril 06, 2006

Respondendo...

...ao desafio do Allex:


4 empregos que já tive
- Dona de casa (a full time)
- Cozinheira (por prazer)
- Escritora sem futuro
- Arlequim (no trapézio da vida)


4 filmes que posso ver vezes sem conta
- Um sorriso
- Um sorriso ainda maior
- Um carinho
- O saber que mesmo caindo terei alguém a segurar-me a mão (este é o meu favorito)


4 sítios onde já vivi
- Lua (pontualmente)
- Marte (nas fases cor-de-rosa)
- Nuvens (vou e venho)
- Selva (onde resido actualmente)


4 séries de televisão que não perco
- Um café com os amigos
- Uma ida ao cinema
- Um passeio pela natureza
- Um qualquer coisa que não me cole à tv


4 Web sites que visito diariamente
- os amigos mencionados no meu blog
- um saltinho pelos animais em perigo
- um passinho pelas actualidades musicais
- uma troca de olhares nas leituras de escritores de lugares comuns

março 31, 2006

..Iu..tou..pi..a..

It’s a strange day

No colours or shapes

No sound in my head

I forget who I am

When I’m with you

There’s no reason

There’s no sense

I’m not supposed to feel

I forget who I am

I forget

Fascist baby

Utopia, utopia

My dog needs new ears

Make his eyes see

forever

Make him live like me

Again and again

I’m wired to the world

That’s how I know everything

I’m super brain

That’s how they made me

Goldfrapp

março 23, 2006

V for Vendetta


Visão turva a do ser humano ao não reconhecer a luz que há em si mesmo.

março 15, 2006

Nuvem















As nuvens abraçam-me lentamente e perco-me no mundo ao contrário onde há muito não me sabia ser...

março 11, 2006

Shhhhhh.....


Não digas nada.
Não digas uma única sílaba nesse teu ar sereno..
Não digas..
É pecado se disseres...
É segredo se falares...
Não digas..
Nada...

Salva-me em ti...

março 01, 2006

Folheando...

Mudez multicor de teu beijo ainda menino. Turvam-se-me os olhos na escassez sem pressas a desflorar teus lábios arco-íris... Catapulto-me ab nominem dei na tertúlia desse vento batente em minhas portas ogivais tão azuis. Penetro esse olhar ainda mais azul anilando-me no cio da noite pelas montanhas frias e tépidas ao rubor do pôr solar. Ínfima maravilha a mergulhar nas sombras de abandono. Corroo a paisagem de tanto me abstrair dela. Sinto o semblante vivaz despir-se à minha frente. Jardins violetas a fluírem anémonas marinhas folhas fora numa janela outonal. Pressente-se a dor e o pré-ausente de ficar colorida perante meu desejo insípido, carnudo e violento a esmordaçar o pecado numa demência de dentes e ferros. Seria a escadaria de papel junto à turbulência dos passos num castelo ausente de fadas e sincrónico à fresta de uma janela não tão mais ampla. Amanso-me... Caio na felicidade de ser tédio puro. Tão puro quase infeliz mas tão quase pleno preenchendo em mim a melodia do contentamento silencioso em pleno amanhecer... Perdoo o cair compassados das pétalas intra-vitrum clepsidra. Perdoo porque o não sei dizer ou expressar numa outra maneira. Uma simples letra a evadir-me o espectro. Não luz... espectro... invasão precisa de uma mente vazia de ausência...